quinta-feira, 19 de junho de 2008

EXAME HISTÓRIA B CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

Já estão disponíveis os critérios de classificação do exame de História B, realizado ontem.
Tentem comparar e vejm qual a nota que pensam ter.
Em relação aos critérios, penso estar tudo em ordem. Não me parece, ao contrário do ano passado, haver tópicos nem questões polémicas.
No que respeita ao exame em si, a segunda questão do primeiro grupo preocupa-me apenas pela possibilidade de vocês não identificarem o Ministro do Regente D.Pedro (futuro D.Pedro II) como o Conde da Ericeira que inaugurou a aplicação da doutrina mercantilista em Portugal, nas últimas décadas do século XVII. Mas, pelas impressões recolhidas logo após o exame, parece que não houve grande problema.
Na segunda questão do grupo 3, era um pouco confusa mas era aquilo que eu disse na altura: tinham de pegar nas críticas e comentários de Sá Carneiro e explicitar de que modo esses comentários ganharam forma logo após o 25 dde Abril. Pareceu-me um teste acessível, dentro das matérias tratadas na aula e consideradas no programa da disciplina.
A pergunta que eu faço é muito simples: como é que vos correu?
Para os "cobardolas" que se baldaram,podem ver o exame aqui. :=)
Vejam também o de História A e os critérios, pois na 2ª fase, poderá saír alguma coisa do género!

domingo, 15 de junho de 2008

# 17 (Último resumo da matéria do 11º ano)

• As transformações do regime político (1890-1926): os problemas da sociedade
portuguesa na viragem do século e a contestação da monarquia; a solução
republicana e parlamentar - a Primeira República.


O Rei D.Carlos em 1906: caricatura de Augusto Canduro em que o Rei é visto como um albergue que protege as diversas forças políticas que caracterizam o Regime Político em Constante Rotatividade Partidária durante a segunda metade do século XIX e nas vésperas da implantação da República. Observa a capa do rei que "guarda todas essas forças"
A Crise da Monarquia

1.
A crise do Rotativismo: modelo político de alternância, no poder, entre dois partidos (Progressista e Regenerador) que caracteriza a estabilidade da segunda metade do séc. XIX, encontra-se esgotado, face à falta de resposta para a os principais problemas do país. Nos finais do século XIX, a incapacidade do rei pôr cobro Às constantes disputas políticas constituiu um dos principais factores para a descredibilização da Monarquia junto dos cidadãos.
2. A “Questão do Ultimato Inglês”: em tempos de nacionalismo imperialista, opuseram-se dois projectos de ocupação em África: o ingês, que pretendia unir os territórios africanos numa faixa do Cairo ao Cabo, e o “Mapa Cor-de-Rosa” português, proposta pela sociedade de Geografia de Lisboa (1881) de ocupar os territórios entre Angola e Moçambique. A Inglaterra dirigiu um ultimato a Portugal advertindo, no caso do não cumprimento das ambições inglesas por Portugal, o uso da força. O governo português cedeu contribuindo para uma quebra no orgulho nacional e propagandeou-se na opinião pública portuguesa a ideia de que a Monarquia não conseguia defender os interesses nacionais. Deste incidente, os republicanos (já desde o Liberalismo em expansão em Portugal) fazem nascer o Hino Patriótico “A Portuguesa” que, na sua verão original exortava os portugueses “contra os bretões, marchar, marchar”!
3. A Crise Económica: a década de 1880-90 foi marcada pela crise económica aguda (dependência de matérias primas, capitais privados estrangeiros, descontrolo da dívida externa). No final do século XIX, apesar do surto industrial e do proteccionismo, os problemas sociais e económicos mantinham-se (falta de investimento público na produção, atraso agrícola, dependência externa e emigração de população portuguesa em massa para o Brasil). Na primeira década do século XX, irregularidades financeiras, corrupção e favorecimentos em prol da Alta Burguesia e Família Real, levaram ao agravamento do descontentamento.
4. Difusão da ideologia republicana: o Partido Republicano funda-se em Portugal em 1876. Rapidamente as classes médias aderem, vítimas da crise económica e descrentes da política. O dia 10 de Junho (comemoração da morte de Camões) passa a ser aproveitado pelos Republicanos para manifestarem a sua desconfiança face à possível desagregação da Nação e da Independência.
5. Revoltas com vista a mostrar o descontentamento face à Monarquia (31 de Janeiro de 1891, no Porto, face ao Ultimato)
6. A Ditadura de João Franco: em 1907, o Rei D.Carlos dissolveu o Parlamento, permitindo ao ministro João Franco governar em plenos poderes. Esta “ditadura” apenas veio agravar os sentimentos anti-monárquicos.
7. O Regicídio: a morte de D.Carlos e do Príncipe herdeiro D.Luis, em Fevereiro de 1908, surtiu enorme golpe a favor do desgaste monárquico. D.Manuel II não teria mais condições para assumir o trono.
Princípios do ideário republicano

Preparada para ter início a 4 de Outubro de 1910, o movimento republicano conseguiu triunfar, apesar das constantes acções de confronto entre milícias pró-republicanas e tropas fiéis ao Estado terem tornado Lisboa num campo de batalha, a 5 de Outubro. Teófilo Braga, Eusébio Leão e Afonso Costa proclamam nesse dia, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, o fim da Monarquia e a implantação da República Portuguesa. Até às eleições, o poder seria entregue a um governo provisório liderado por Teófilo Braga.

A Primeira República assentou sobre as seguintes ideias:

- Laicização total do Estado (separação total entre o Estado e a Igreja). Porém, as medidas anti-clericais republicanas (expulsão dos jesuítas por Afonso Costa) foram a base do crescimento da contestação anti-republicana. Portugal era um país de tradições católicas profundas.
- Abolição definitiva da Sociedade de Ordens
- Defesa dos Direitos dos Trabalhadores (legalização dos sindicatos, greves e descanso semanal)
- Direito à instrução pública: grandes progressos, embora afastando os analfabetos da intervenção política

Regime Político da Primeira República (1910-1926)

A Assembleia Nacional Constituinte elaborou a Constituição de 1911 e elegeu o primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga. As suas linhas de organização eram:

- a superioridade do poder legislativo pois o Congresso da República (parlamento), constituído pela Câmara dos Deputados e pelo Senado (duas Câmaras), era dotado de amplos poderes, controlava o Governo e podia destituir o Presidente. Isto explica a instabilidade e fraqueza da 1ª República.
- o carácter meramente simbólico da figura do presidente da República, eleito pelo Congresso (parlamento) e não tinha direito ao direito de vetar as leis emanadas pelo órgão legislativo.
- o sufrágio universal e directo para os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de família.

Discutimos muito na aula acerca de "República ou Monarquia?" Para os mais interessados, podem ler a minha opinião acerca deste tema no meu blog. Cliquem aqui!

# 16


4. Portugal, uma sociedade capitalista dependente
• A Regeneração entre o livre-cambismo e o proteccionismo (1850-80): o desenvolvimento de infra-estruturas; a dinamização da actividade produtiva;a necessidade de capitais e os mecanismos da dependência.
• Entre a depressão e a expansão (1880-1914): a crise financeira de 1880-90 e o surto industrial de final de século.

O seu significado político

Em 1851, o golpe de Estado do Marechal Saldanha (um dos braços de apoio de D.Pedro no processo de instauração do Liberalismo cartista em Portugal) instaurou uma nova etapa política em Portugal, designada por Regeneração (a ideia de regenerar o país). Este movimento, que se estendeu, cronologicamente, até à implantação da República (1910) teve um duplo significado:
Por um lado, pretendia-se o progresso económico do país, com o fomento do Capitalismo aplicado às actividades económicas; por outro lado, encerrando-se uma longa fase de conflitos entre as facções liberais (cartistas puros, setembristas, vintistas ou apoiantes da Constituição de 1822, apoiantes da causa absolutista e cabralistas), a paz social foi conseguida através da Carta Constitucional de 1826, com a revisão que lhe foi introduzida pelo Acto Adicional de 1852 em que o rotativismo entre os partidos caracterizou esta nova fase.

A Política das Obras Públicas

O “Fontismo” é a política de obras públicas levada a cabo pelo ministro do governo regenerador Fontes Pereira de Melo. Preocupado em recuperar o país do atraso económico, Fontes encetou uma política de instalação de i
nfra-estruturas e equipamentos, tais como estradas, caminhos-de-ferro, carros eléctricos, pontes, portos, telégrafo e telefones.
As vantagens desta política de obras públicas eram:

- A criação, pela primeira vez em Portugal, de um mercado nacional, fazendo chegar os produtos a zonas isoladas e estimulando o consumo:
- O incremento agrícola e industrial;
- O alargamento das relações entre o nosso país e a Europa evoluída da Civilização Industrial;

Muitas foram as opiniões da historiografia republicana, entre as quais de Oliveira Martins que reconhecendo “a importância económica do caminho-de-ferro no despertar do nosso sono histórico também criou condições de concorrência para que não estávamos preparados” .

Construção da Ponte Ferroviária D.Maria, no Porto (1876-77)

Caracterização das linhas de força do fomento económico da Regeneração

Revolução dos Transportes: tem por base a ideia do progresso que se estende a todo o país. Aposta nas redes de estradas e ferrovias (em cerca de 50 anos, desde a inauguração em 1856 do primeiro troço Lisboa-Carregado, a ferrovia chegava a todo o país). Construiram-se pontes (D.Luis, no Porto) e portos (Leixões)


Livre-Cambismo: o fomento económico assentou na doutrina livre-cambista, expressa na pauta alfandegária de 1852. Fontes Pereira de Melo (que para além de ser ministro das Obras Públicas, era também ministro da Fazenda) era um acérrimo defensor da redução das taxas aduaneiras. Os seus argumentos para o livre-cambismo eram: só a entrada de matérias primas a baixo preço poderiam favorecer a produção nacional; a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não produzia) a preços baixos beneficia o consumidor; por último, baixando os impostos sobre a importação, diminuia-se o risco do contrabando.


Exploração da agricultura orientada para a exportação: a aplicação do liberalismo económico favoreceu a especialização económica em certos produtos agrícolas de boa aceitação no estrangeiro, como o vinho e a cortiça. Para isto, aplicou-se a lógica capitalista ao sector agrícola inovando através do desbravamento de terras, redução do pousio, abolição de pastos comuns, introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (especialmente no Sul devido às condições morfológicas do terreno), uso de adubação química produzida em Portugal (desenvolvimento da indústria química).

Arranque industrial: apesar do atraso económico português em relação aos países europeus, registaram-se notáveis avanços como a difusão da máquina a vapor, desenvolvimento de diversos sectores da indústria (cortiça, conservas de peixe e tabacos), criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns sectores (têxtil, por exemplo), aumento da polpulação operária (apesar de pouco qualificada), criação de sociedades anónimas e aplicação da energia eléctrica à indústria (já no século XX). Importante foi também o apelo à inovação tecnológica que resulta no aumento de patentes registadas com origem nacional e que seriam apresentadas na Exposição do Mundo Industrial em Paris (1889).

No entanto, a economia portuguesa padecia de graves problemas de base que impediram o crescimento industrial: falta de matérias primas no território nacional (algodão), carência de população activa no sector secundário (20% em 1890), falta de formação no operadriado e patronato, investimento particular em àreas do sector imobiliário em detrimento do sector produtivo. Por último, a eterna dependênciade capitais estrangeiros.

A Crise Financeira de 1880-1890: problemas do Livre Cambismo e da Dependência externa

Apesar do incremento do Fontismo, este desenvolvimento assentava sobre bases instáveis. A política livre-cambista abriu caminho à entrada de produtos industriais a baixo preço. Portugal não detinha ainda condições de competir com esses produtos importados.
Na agricultura, graves pragas como a filoxera, travaram o desenvolvimento do sector. Portugal agravava a balança comercial.
Por outro lado, o desenvolvimento das infra-estruturas fez-se muito graças ao investimento particular estrangeiro. Logo, os lucros daí obtidos não eram aplicados no crescimento de receita do Estado.
Por último, o défice das finanças públicas agravou-se ao longo do século XIX (chegando aos 10 000 contos entre 1885 e 1889). Os recursos utilizados para aumentar as receitas passavam pelas remessas de emigrantes (que foram diminuindo a partir da independência brasileira, pelo anti-popular aumento de impostos e por pedidos de empréstimos à banca estrangeira (sobretudo inglesa) para pagar, muitas vezes, juros de empréstimos anteriores.
Em 1892, com a falência de alguns bancos ingleses (fiadores do Estado português), o Estado português decreta a situação de Bancarrota.

O surto industrial do final do século

A crise financeira obrigou a uma reorientação da economia portuguesa: retorno à doutrina proteccionista (com a pauta alfandegária de 1892) que permitiu à agricultura enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar os produtos no mercado em condições vantajosas; concentração industrial (criação de grandes companhias, como a Companhia União Fabril- CUF); valorização do mercado colonial africano; expansão tecnológica com a difusão de sectores ligados à 2ª Revolução Industrial (electricidade, indústria química, metalurgia pesada, mecanização).

sexta-feira, 13 de junho de 2008

# 15



2.2. Unidade e diversidade da sociedade oitocentista
• A condição burguesa: valores e comportamentos; proliferação do terciário e
incremento das classes médias.
• A condição operária: salários e modos de vida; associativismo e sindicalismo. As
propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade.

A Sociedade de Ordens de Antigo Regime, na qual o nascimento era o principal factor de distinção social, deu lugar à Sociedade de Classes da Época Contemporânea, em que os cidadãos, embora iguais perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens que este permite conquistar (instrução, profissão prestigiada, lazer).
Deste modo, a unidade do corpo social, conferida pelo igual estatuto jurídico dos cidadãos (fruto das conquistas do Liberalismo), é fragmentada em dois grandes grupos:

- A Burguesia: é o grupo dominante porque detém os meios de produção, muito embora ela própria se divida numa hierarquia de diferentes estatutos.
- O Proletariado: é a classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial.

Neste tipo de corpo social, os indivíduos de origem humilde podem, apenas pelo seu mérito individual e pelo seu sucesso, ascender aos lugares cimeiros da sociedade, obtendo o seu reconhecimento por todos. São os chamados self-made men.
A capacidade deste tipo de mobilidade ascensional depende sempre da capacidade e salvaguardar o prestígio, a riqueza e o estatuto por parte destes homens e também das suas famílias que devem dar-lhe continuidade e , se possível, reforçar o seu estatuto através de várias estratégias (aquisição de propriedades; fusão, através de casamento, com membros da aristocracia; nobilitação por serviços prestados à Nação; exercício de cargos políticos). Criam-se as chamadas dinastias burguesas.
Paul Rothchild, magnata financeiro americano, um exemplo do self-made man, fundador de uma poderosa dinanstia burguesa

Alta Burguesia: no século XIX, a Burguesia conquistou um estatuto social equiparado estatuto económico que já detinha. Para além de controlar pontos-chave da economia (bancos, transportes, indústrias), começa a exercer cargos políticos (deputados, ministros). Porém, ao nível de comportamento, a nobreza continua a ser o modelo de inspiração. A compra, por parte da Burguesia, de castelos, palácios e o casamento de herdeiros burgueses com membros da antiga Aristocracia revelavam essa tendência para continuar a ver na Aristocracia o modelo para o glamour que era sinónimo de estatuto social.
No entanto, pouco a pouco, a burguesia foi definindo e impondo os seus próprios valores.
O apreço pelo trabalho, o sentido de poupança, a perseverança e a solidariedade familiar são característicos desta nova realidade social burguesa. O orgulho burguês fá-los ter uma crescente consciência de classe.



Classe Média: a classe média constitui o grupo mais heterogéneo e socialmente fluente da sociedade industrial, Englobam o conjunto de profissões que não dependem da força física. Correspondem à afirmação do sector terciário (as profissões ligadas aos serviços).

- Pequenos empresários da Indústria
- Empregados comerciais, que surgem a partir do momento em que as empresas criam novos espaços de emprego para fazer chegar os produtos aos consumidores.
- Profissões Liberais: em vez de ter um patrão, trabalhavam por conta própria. Estavam ligados à ideia de promoção social: médicos, advogados, empregados de escritórios (colarinhos brancos) ou professores eram profissionais que garantiam um futuro seguro e, ao mesmo, tempo uma distinção na sociedade. As necessidades da sociedade (cuidados médicos, apoio jurídico, formação e instrução) valorizaram o seu estatuto.




A Condição Operária

A aplicação do Liberalismo Económico nos países industrializados, ao estabelecer a não-intervenção do Estado, deixou os operários à mercê das leis do mercado. O proletário é aquele que não tem qualquer poder sobre a produção, pois as minas, os caminhos-de-ferro, as fábricas pertencem à classe burguesa que detém o capital. Ele apenas tem os seus filhos (a sua prole) e um salário pelo seu trabalho, o qual aumenta ou diminui consoante a prosperidade da empresa, sem que um salário mínimo seja assegurado.
Neste contexto, os operários da 2ª Revolução Industrial enfrentavam grandes problemas dentro e fora do seu local de trabalho:

- Ausência de redes de solidariedade social
- Elevado risco de acidentes de trabalho e doenças profissionais que podiam levar ao despedimento do operário, sem direito a subsídio e salário.
- Ausência de medidas de apoio social (não existe direito a descanso, férias, horários de trabalho que rondam as 16 horas diárias; subsídio de velhice e desemprego ou invalidez)
- Proibição e repressão de todo o tipo de manifestação social pois as leis defendiam as classes dominantes.
- Contratação de mão-de-obra infantil por ser mais barata, menos reivindicativa e mais ágil.
- Falta de condições no trabalho (poluição, calor e frio extremos, parca iluminação, ausência de cantinas e vestuário apropriado)
- Espaços habitacionais sobrelotados e insalubres
- Pobreza extrema e problemas sociais derivados.


Pirâmide do Capitalismo: a organização da sociedade capitalista do século XIX vista pelos primeiros movimentos operários. Quais as críticas expressas nesta imagem?

Os Movimentos Operários

As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram espontâneas, pouco organizadas e dirigidas. Surgem com os problemas da substituição do trabalho humano pelas máquinas. Por exemplo, em Inglaterra, o movimento de Ned Ludd destruía as máquinas de produção. Com o passar do tempo o movimento operário (acções de luta dos operários) organizou-se de forma eficiente:

- O Associativismo: na falta de redes de solidariedade tradicionais (família, paróquia) as associações de socorros mútuos apoiavam os operários em caso de vicissitude mediante o pagamento de uma quota.

A Associação de Beneficiência "A Voz do Operário" fundada em Lisboa em 1883 mostra o espírito associativista que caracterizou o movimento operário


- O Sindicalismo: no início actuando de forma clandestina, os sindicatos manifestavam-se de forma a pressionar os patronatos (o 1º de Maio de 1886, em Chicago, em que se luta pelas 8 horas de trabalho). Outra forma de luta era a greve. A greve constitui uma forte arma de pressão pois implicava a paragem da produção e dos lucros. Por outro lado mostrava a importância da classe operária no esquema socioeconómico industrial capitalista. As greves trouxeram uma maior negociação entre o operário e o patrão e, no final do século XIX, muito já se tinha conquistado, com a elaboração de legislação social e laboral. Os primeiros movimentos operários surgem no início do século XIX (c. 1824-25) em Inglaterra com as trade unions.

O Socialismo e a Condição Operária

As condições de miséria em que viviam os proletários despertaram a vontade de intervenção social dos pensadores da época. No século XIX, a doutrina socialista emergente criticava a desumanidade do sistema capitalista e propunha uma sociedade mais igualitária e fraterna.

As duas principais correntes do Socialismo eram:

- Socialismo Utópico: o seu principal mentor era o historiador e economista francês Pierre-Joseph Proudhon. Propunha alternativas ao Capitalismo de forma a tornar a sociedade mais justa. Em vez de trabalharem para o patrão, os operários deveriam trabalhar uns para os outros. Defendia que, sem o proletariado, a produção acabaria. Entregando os meio de produção aos operários associados e abolindo o Estado, a exploração do homem pelo homem teria fim.
- Marxismo ou Socialismo Científico: o filósofo alemão Karl Marx analisou historicamente os modos de produção, tendo concluído que a luta de classes é um fio condutor que atravessa todas as épocas. Por isso, Marx defende que a luta de classes é necessária para atingir uma sociedade perfeita em que não haja classes sociais. Esse estado perfeito e final do processo histórico será apelidado de Comunismo (partilha de tudo por toda a comunidade).

Karl Marx e Friedrich Engels expuseram, no Manifesto do Partido Comunista (1848), uma proposta de explicação do processo histórico que tomou o nome de marxismo ou materialismo histórico:

- A Luta de Classes entre opressores e oprimidos é um traço fundamental para fazer a História evoluir.
- A Sociedade Burguesa, dividida entre burgueses e proletários, será destruída quando o proletariado instaurar a “ditadura do proletariado
- Depois de conquistar o poder político, o proletariado retirará o capital à burguesia e o capitalismo será destruído pois estarão todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado Proletário, ou seja, o Comunismo.
- Os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução comunista: o lema dos Partidos Comunistas é a expressão que inaugura a obra de Marx e Engels: “Proletários de todo o Mundo: Uni-vos!”

O Domingo Sangrento em 1905: operários e camponeses manifestam-se em frente ao Palácio de inverno do Czar Nicolau II, S.Petersburgo na Rússia, por melhores condições. As tropas carregam sob os manifestantes...
Quais os efeitos desta doutrina marxista no movimento operário?

- Tendo contactado com a miséria operária aquando da sua estadia em Inglaterra, Marx e a sua teoria revestiu um carácter prático que faltava ao Socialismo Proudhoniano, ganhando um forte impacto na segunda metade do século XIX.
Com a ideia da união internacional de todos os operários, Marx redigiu em Londres (1864) os estatutos da I Internacional Operária (Associação Internacional de Trabalhadores). Apoiou a Comuna de Paris de 1871, o primeiro governo operário da História.
Engels foi um dos fundadores da II Internacional em Paris (1889), que nasce após a cisão entre Marx e Edouard Bernstein, quando este defende que a transformação do Estado não deve ser feita através de acções revolucionárias mas sim de forma moderada. Bernestein é o pai da Social Democracia, ideologia que se opõe ao Socialismo Marxista.
As Internacionais (Associações Internacionais Operárias) promoveram a fundação de partidos socialistas na Europa.
A doutrina marxista serviria de enquadramento teórico às transformações que ocorreriam na Rússia em 1917.



quinta-feira, 12 de junho de 2008

# 14


2. A afirmação da sociedade industrial e urbana

2.1. A explosão populacional; a expansão urbana e o novo urbanismo;
migrações internas e emigração.



Explosão populacional do século XIX

No século XIX, verificou-se um crescimento muito rápido e acentuado da população mundial e, em especial, da Europa industrializada, falando-se por isso de uma explosão demográfica. No entanto o fenómeno de crescimento populacional não era novo: a ruptura com o modelo demográfico antigo data de meados do século XVIII.

Como caracterizamos este novo modelo demográfico?

1. Recuo da mortalidade e infantil
2. Declínio da elevada natalidade (a partir de cerca de 1870)
3. A descida da idade do casamento (invertendo para uma idade de casamento tardia)
4. Aumento da esperança média de vida para ambos os sexos
5. Aumento da densidade populacional.

Estas características revelaram-se acima de tudo nos países mais industrializados da Europa (Inglaterra, França e Alemanha) e, mais tarde, na Europa do Sul. À Revolução Industrial correspondeu uma expansão da população.

Quais os factores que nos ajudam a compreender estes novos regimes demográficos?

1. Melhores cuidados médicos (vacinação, prática da desinfecção, inventada por Jenner ainda no século XVIII)
2. Maior abundância e diversidade de bens alimentares (decorre da agricultura e indústria mecanizadas que permitem uma maior e mais rápida chegada dos bens aos consumidores)
3.O novo papel da criança: deixa de ser vista como mais mão-de-obra, para passar a ter atenções na sua formação (principalmente nas famílias burguesas)
4.Progressos na higiene (uso do sabão, vestuário de algodão, maior conforto das casas, redes de esgotos e salubridade como preocupação dos governos liberais).

Já no século XVIII falava-se dos perigos de um baby-boom. Thomas Malthus, monge escocês, defende que a procriação deve ser feita de um modo responsável, tendo em conta as condições socioeconómicas das famílias para cuidar dos filhos. Estas ideias geraram nas famílias burguesas o sentimento de responsabilidade paternal, ou seja, a prática de medidas de anti-concepção foram difundidas nesta altura.

A Expansão urbana

As cidades no século XIX tornam-se pólos de atracção para uma população em franco crescimento.

- o Êxodo Rural: gerado pelas alterações na produção agrícola, em que há maior dispensa de mão-de-obra, o habitante rural vem procurar a cidade, levando a um grande crescimento dos centros urbanos a partir dos meados do século XIX.
- a Emigração: a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida para a América, África e Austrália, destacando-se acima de tudo o crescimento urbano dos EUA nesta altura. Em 1900, Nova Iorque, para além de importância económica, torna-se a segunda maior cidade do mundo.
- o Crescimento dos Sectores Secundário e Terciário: o comércio, a indústria, as profissões liberais concentram-se nas cidades e requerem mais efectivos. Onde se sediam a Indústria e os Serviços, as populações crescem. Por seu lado, a população activa dedicada ao sector primário decresce.

Tópico de reflexão:1. Explica as razões para os dados apresentados no quadro.


O novo modelo de Urbanismo no século XIX

Este crescimento urbano trouxe grandes problemas que exigiam grandes soluções nas cidades europeias ainda marcadas pelo urbanismo antigo.
Acima de tudo, dois grandes problemas e respectivas soluções:
- criar espaço para a Burguesia que se afirmava, entregando a cidade àqueles que a criaram. Ou seja, criar condições políticas que permitam à burguesia governar a cidade consoante os seus interesses. Novas preocupações em relação ao poder municipal.
- proporcionar condições de vida mais digna para os proletários, em geral provincianos desenraizados, cujos filhos (a prole) trabalhavam para aumentar o rendimento doméstico.

Soluções encontradas:
- expansão das cidades para além das muralhas medievais
- novas avenidas e redes de esgotos, abastecimento de água e iluminação
- a vida burguesa valoriza o lazer: criação de espaços de lazer (óperas, teatros, jardins, esplanadas)
- transportes públicos (o advento do comboio e mais tarde da electricidade; o metropolitano e o eléctrico)
- os falanstérios e familistérios: edifícios de albergue aos operários para evitar os problemas sociais decorrentes da miséria em que vivem, integrando-os harmoniosamente na sociedade industrial.

Os grandes fluxos migratórios do século XIX

A partir de 1840, os europeus espalharam-se pelo mundo em sucessivas vagas de emigração. Na origem deste fluxo emigratório terão estado os seguintes factores:

1. A pressão populacional: os governos e sindicatos apoiavam políticas migratórias no intuito de contornar os problemas decorrentes da explosão populacional europeia (necessidade de mais empregos, contestação social)
2. Os problemas do mundo rural: enquanto que nos países desenvolvidos as transformações na agricultura libertava mão-de-obra, as regiões menos desenvolvidas eram mais sujeitas às fomes causadas por maus anos agrícolas. O caso mais significativo desta época passou-se na Irlanda em que a “praga da batata” (o principal produto de consumo na ilha) devastou os campos, originando a chamada “Grande Fome”. Milhões de irlandeses emigraram durante o século XIX e princípios do século XX para a América do Norte, especialmente Nova Iorque, vista como terra de oportunidades; “american dream” (terra de tolerância moral e promoção social). Os EUA receberam entre 1821 e 1920 cerca de 34 milhões de imigrantes! *

3. Desemprego tecnológico: a rapidez do desenvolvimento tecnológico e industrial levou a que, progressivamente, o homem fosse substituído pela máquina. No caso português, a industrialização lenta não oferecia empregos suficientes. Muitos milhares de portugueses emigraram para o Brasil e África nesta altura.

4. Revolução nos transportes: os transportes tornam-se melhores e mais baratos, facilitando a emigração.

5. A fuga a perseguições políticas e religiosas.
* É um exemplo óbvio e que me custa dar mas relembrem-se do filme do Titanic (inícios do seculo XX)

ATENÇÃO À NAVEGAÇÃO: NOVAS INFORMAÇÕES DO GAVE!

O GAVE disponibilizou hoje novas informações com respeito ao Exame. Podem também consultar a página do GAVE para ver as informações para o exame de Matemática, Português, Economia e Geografia (para os que vão fazer).
Não são novidades pois muitas vezes chamei a vossa atenção para isto. Mas que ao menos vejam que não estava a "delirar"... :)
Hoje dei uma aula de apoio na Escola em relação à matéria de 11º ano. Só apareceu o Dutxa, o SLB e o Pedro "Beach Boy" Pinto.
2ª feira, a partir das 10h, estarei na Escola para mais uma aula, desta vez para o 12º ano. Quem quiser, que apareça. Bom S.António!



Já agora, fiquem aqui com a barraca do exame do ano passado...os tigres e os dragões...confusões!!! Bem, só para partilhar!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

# 13

O COMÉRCIO INTERNACIONAL: TROCAS MULTILATERAIS E EFEITOS DE ARRASTAMENTO

O Capitalismo tem por base uma economia de mercado.
Quando a finalidade da produção é vender para um vasto mercado e , com isso, obter lucros, estamos perante o sistema capitalista.
Daqui resulta a importância dos preços e a consequente criação de bolsas onde aqueles são fixados: nas bolsas de comércio, as primeiras a serem formadas, onde eram fixados os preços dos principais produtos, sobretudo de origem vegetal (Bolsa de trigo em Chicago, em 1848, bolsa do café no Brasil e a bolsa das flores na Holanda).
Nas bolsas de valores era fixada a capacidade de produção e de venda das grandes empresas industriais, bancárias ou comerciais.
O desenvolvimento das indústrias e dos transportes, bem como a tendência para a divisão internacional do trabalho entre os países subdesenvolvidos fornecedores de matéria-prima e produtos alimentares e os países desenvolvidos especializados na indústria intensifica o Comércio Internacional e as trocas multilaterais.
Entre 1860 e 1914, o tráfego internacional triplicou, sendo a Europa a responsável por dois terços do comércio internacional.
A primazia da Inglaterra em termos marítimos (os clippers , como a Cutty Sark que cruzavam com rapidez o Atlântico) e industriais garantia-lhe o primeiro lugar quanto ao volume e valor do tráfego mundial. A Alemanha (já unificada) aproxima-se, a partir de 1885, do poderio britânico, superando a França e os crescentes Estados Unidos.
O esquema das trocas multilaterais inclui, por um lado, a exportação de produtos industriais dos países desenvolvidos em troca de artigos de luxo, matérias-primas e produtos agrícolas das colónias e, por outro lado, trocas de produtos industriais entre os mesmos países desenvolvidos.

A superioridade industrial e comercial inglesa favoreceu a adopção do Livre Cambismo naquele país, apesar dos protestos dos agricultores, fortemente penalizados pela livre circulação de cereais importados a baixo preço.
Apesar da inspiração inglesa, outros países, que tentaram seguir o modelo inglês, rapidamente adoptaram medidas de proteccionismo à euforia livre-cambista (Bismark, chanceler alemão, dá principal importância aos produtos nacionais de modo a suscitar o incremento industrial na Alemanha Unificada).
A partir de finais do século XIX, a Inglaterra, face a estas medidas proteccionistas dos outros países, adoptam também esssas medidas com vista à protecção das suas indústrias.

Em conclusão, o Comércio Internacional e as consequentes as trocas multilaterais exerceram, na economia, uma grande aceleração e aquecimento, dando um efeito de arrastamento sobre as economias que nele participaram. No caso dos novos países de povoamento europeu (Austrália, Canadá e África do Sul) a emigração branca (europeia), o investimento europeu e a exportação de matérias-primas foram condicionantes para o desenvolvimento destes novos estados.